segunda-feira, 2 de abril de 2018

Projeto de leitura: Os Miseráveis, de Victor Hugo (Tomo 2)

Olha, já faz algumas semanas que acabei de ler o Tomo 2 e o sentimento é incrível. Foi minha primeira meta de ano novo concluída, acreditam? Se você ainda não leu o post sobre o Tomo 1, clique aqui. Lá eu contei um pouquinho da experiência, explico a edição que escolhi comprar, minha opinião sobre a tradução, entre outros tópicos. Hoje vamos conversar um pouquinho mais sobre a história em si.

Afinal, dá pra resumir Os Miseráveis? Eu não vou conseguir te entregar uma definição da história. Victor Hugo criou uma teia com diversos protagonistas. Eu poderia explicar a história do ponto de vista de qualquer um deles, porém a maioria entende (e eu concordo) que Jean Valjean é o fio que liga a todos, é com ele que o autor nos guia.

O livro teve lançamento simultâneo em 1862 (Bruxelas e Paris), tendo sido adaptado pra diversas mídias. Mesmo sendo uma história bem difundida, vou tentar não dar muitos detalhes. Mas já adianto: é tanta coisa que acontece, que não estragará em nada sua leitura se você souber muito.

Jean é um homem que foi condenado a trabalhos forçados após ter roubado um pedaço de pão. Somente este fato nos traz uma característica da história: o autor reflete sobre a lei dos homens e a lei de Deus; aquilo que é legalizado, porém com ética duvidosa. A pena do personagem aumenta quando ele tenta fugir e é recapturado, somando assim trabalhos forçados nas galés para a vida toda.

Ao entrar em condicional, ele encontra D. Bienevu. Comparando muito mal, seria o equivalente ao Mestre Yoda nessa história. É um homem bom, ético, que dedicava sua vida a ajudar os outros, principalmente aos doentes e renegados.  Jean o encara como qualquer outro homem, mas a reação do bispo a uma atitude nada legal dele, o faz se sentir tocado e transformado. Jean Valjean não conhecia o amor: era um homem que odiava tudo e a todos. Agora, um miserável em busca de redenção. Sua história, portanto, se entrelaçará com outros miseráveis. Alguns de bom caráter, outros não.

Um agravante para Jean Valjean é a presença de Javert. Um policial obstinado, completamente imergido e crente na eficiência do sistema penal. Não importa o que Valjean fizer, ele sempre será um grilheta. A presença do policial é uma ameaça a tudo o que ele constrói. Mesmo assim, não o encaro como vilão, mas um miserável como todos os outros, preso a suas convicções que não o permitem entender outras nuances que a vida traz.


E então, existe um vilão? Para mim, existem dois. Para os personagens, seria o casal Thénardier. Pessoas de mal caráter e aproveitadoras, pobres de posses e de espírito. Por outro lado, considerando o caráter extremamente iluminista da trama, a Escuridão seria o segundo vilão. Para o autor, esta é a causa de tudo. E a cura? A Luz, o Progresso, a Razão. Sério, eu devia ter contado quantas vezes a palavra "progresso" aparece na história.

Apesar de toda a preocupação com o miserável, o outro de forma geral, Vistor Hugo foi um homem de seu tempo. É impossível não reparar o nacionalismo e o eurocentrismo em Os Miseráveis. Para quem gosta de História, é como ver o livro didático na prática. Por favor, professores: citem esta obra em suas aulas! Enquanto lia, imaginava o jovem autor, inspirado pelas ideias que surgiam. Mesmo assim, fui surpreendida com certas considerações que parecem ir além: a injustiça com as mulheres e a uma (quase) defesa das variedades linguísticas, por exemplo.


Abaixo, alguns dos trechos e frases que me marcaram:
"Vivemos em uma sociedade sombria. Ter êxito, eis o ensinamento destilado gota a gota pela corrupção que avança."
O Bispo (...) dizia sempre: - Existe a bravura sacerdotal como existe a bravura do coronel de dragões, A diferença - acrescentava - é que a nossa deve ser tranquila. 
 "(...) Temamos a nós mesmos. Os preconceitos é que são os ladrões; os vícios é que são os assassinos. Os grandes perigos estão dentro de nós. Que importância tem aquele que ameaça nossa vida ou a nossa fortuna? Preocupemo-nos com o que põe em perigo a nossa alma."
"(...) Não existe cegueira onde existe certeza."
"É evidente que todos nós falamos com nós mesmos; não existe um único ser pensante que não o tenha experimentado; pode-se dizer que o verbo nunca é mistério mais grandioso que quando vai, no interior de um homem, do pensamento à consciência e volta da consciência ao pensamento. (...) Quando nossa alma está agitada, tudo dentro de nós fala, menos os lábios. As realidades da alma, por não serem visíveis ou palpáveis, não deixam de ser realidades."
"O lugar em que uma planície se junta a uma cidade é sempre dominado por não sei que melancolia penetrante; A natureza e a humanidade fazem-se ouvir aí ao mesmo tempo. As originalidades locais tornam-se evidentes"
"A coragem e a força têm dessas comunicações misteriosas."
"O crescimento intelectual e moral não é menos indispensável que o progresso material. O saber é um viático; pensar é a primeira necessidade; a verdade alimenta tanto quanto o pão. Qualquer razão, sem o alimento da ciência e da sabedoria, definha. Compadeçamo-nos tanto dos estômagos como dos espíritos que não se alimentam. Se existe algo nais pungente que um corpo que agoniza por falta de pão é a alma que morre à míngua de luz" (Existe muito positivismo aqui, eu sei. Eu sou estudante de Ciências Humanas, consigo criticar alguns pontos. Mas achei esse parágrafo lindo.)
Eu deixei muuuuuita coisa de fora. Se você me acompanhou no Instagram sabe que marquei muito mais do que está acima, porém muitos trechos fazem mais sentido dentro do contexto específico ou são pedaços grandes da história que vão se completando. Além de diversas referências que relacionei ao longo da leitura, momentos que não há como transcrever aqui.

É muito legal ver como este livro marcas as pessoas. Coloque #LendoOsMiseráveis na busca do Instagram: existem dezenas de perfis, canais e blogs que se propõem a compartilhar suas experiências. Perguntei no meu Facebook quem já tinha lido e tive um relato de como Jean Valjean marcou a vida da pessoa, mesmo tendo lido há muitos anos. Um colega na faculdade disse que esta trama está no Top3 de favoritos da vida para ele.

Eu agora faço parte do grupo de pessoas que (finalmente) leram esta obra maravilhosa, e espero estar de dando curiosidade para fazer isto também! No próximo post encerrarei este projeto falando sobre a história em outras mídias: cinema e musicais. Fico te esperando!

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