Você já ouviu falar na história de Anita Garibaldi? Uma mulher que desafiou as expectativas de seu tempo ao lutar na Guerra dos Farrapos no Brasil e, posteriormente, na Itália. Seus feitos contribuíram para o título "Heroína de Dois Mundos". Junto ao seu marido, o famoso Giuseppe Garibaldi, ambos impactaram sociedades diversas. A partir destes dois personagens somos convidados para imergir na peleja do Sul do Brasil, no cerco de Rosas em Montevidéu e na unificação da Itália.
Leticia Wierzchowski ficou mais conhecida após A casa das sete mulheres ter se tornado uma série da TV Globo em 2003. Giovanna Antonelli interpretou Anita e Thiago Lacerda foi Giuseppe Garibaldi (inclusive, o ator e a autora mantiveram contato).
Apesar deste livro ser o último de uma trilogia, seu enredo me pareceu quase independente. Para aqueles que leram os demais, as menções sobre a família de Bento Gonçalves tem um sabor especial, mas não encontrei dificuldade para que ele possa ser lido sozinho. Nos agradecimentos, a autora explica:
"Anita, a quem eu não desbravei no primeiro livro, A casa das sete mulheres, foi também - e, principalmente, talvez - uma companhia instigante, uma mulher mistério com olhos de ruína (como disse um amigo), criatura muito à frente do seu tempo. Anita Garibaldi, considerada uma heroína, é venerada hoje no Brasil e na Europa, mas deixou poucas pegadas nos livros de História, o que era tristemente comum às mulheres."
Com as metáforas, que são sua marca, além de uma alternância inteligente de pontos de vista, a história mescla os primeiros e os últimos acontecimentos da vida dos dois protagonistas. Além disso, temos uma narradora "surpresa". Não vou dizer quem é porque achei sua entrada algo encantador, que complementa o perfil épico trazido pela escrita.
É um romance histórico cheio de detalhes, com um trabalho de pesquisa visivelmente muito consistente. O andamento é mais "lento", caracterizado por descrições poéticas e repetição de sentimentos e impressões intimistas dos personagens. Este foi o primeiro livro lido da
Maratona Literária de Verão de 2019, realizada pelo canal Geek Freak (que já tem muito conteúdo no
Instagram). Também me deu um empurrão excelente como primeira leitura do ano.
Leitores mais apressados podem se incomodar com o estilo, mas esta foi minha experiência mais empolgante com a autora. Os dois volumes anteriores têm a tristeza e a melancolia da guerra, focando nas angústias daqueles que ficam. Principalmente, as mulheres. Valorizar diversos olhares femininos também é uma marca de Letícia. O fato de Anita ser protagonista influencia, pois tinha uma personalidade forte e crises pessoais que a tornam complexa. Giuseppe, ainda que republicanos, liberal e abolicionista, revela-se um homem de sua época. O relacionamento do casal era tenso e intenso.
Além desta trilogia, também já tive contato com Sal, que infelizmente achei curto demais, sendo os personagens secundários que me tocaram mais e justamente os que receberam desenvolvimento e desfechos mais rápidos. Este último foi lido em dezembro, com atualizações feitas na época pelo stories .
Para os que gostam deste gênero, leiam todos: A casa das sete mulheres, O farol no pampa e Travessia. São três calhamaços, mas nunca demorei mais que uma semana para terminá-los. A autora sabe nos cativar. Super recomendo!