quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Certezas


Untitled
Ela sentou-se na frente do jardim e passou a observar, todos os dias, as borboletas laranjas que ali voavam. Nunca pareciam preocupadas, nunca deixavam de voar, por maior que fosse a ventania. Caso alguém esbarrasse na folha em que haviam pousado, nada de cair.

Uma segurança impressionante vinda de seres tão meigos e de aparência frágil. Depois de alguns meses seu caderno de desenhos só apareciam borboletas e suas flores; depois, ela comprou um caderno com linhas pra poder explicar em palavras o quanto aqueles momentos em seu jardim a inspiravam.

Em um belo dia, ela avistou um homem com uma rede imensa tentando pegar suas preciosas amigas. Ela saiu correndo pra impedir; assustado e sem nada entender, foi embora. Ele não conseguiu ver, por conta de seu rápido encontro com a moça, que ter as borboletas ao redor dela, era uma das poucas certezas que possuía.

Era verão, e o vento morno daquela casa de apenas uma moradora, deixava tudo ainda mais incômodo. As férias do trabalho uma hora iam acabar, e uma decisão precisaria ser tomada: continuar voando contra o vento ou pousar e esperar?

Ela havia aprendido a dádiva de saber esperar o tempo passar; tinha aprendido que grande parte de seus desafios dependeriam apenas dela mesma para serem concretizados. Aprendeu também que a cidade grande ainda estava lá esperando sua volta, com todo o barulho e a poluição de sempre, sem se importar com sua idade, CPF ou com suas incertezas. 

A tranquilidade do jardim agora estaria apenas numa lembrança boa. As borboletas apenas em seu pensamento. E sua vida, esperando.

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